Projeto CulturalMente – Abril, trabalhos mil
O projeto “CulturalMente”, continua a procurar trazer à memória recordações de um passado nem sempre longínquo mas que, por força de uma mudança geracional em grande rotura com as demais, acabou por deixar muitos dos velhos costumes presos ao passado. Sandra Matos, técnica da AFERT responsável pela implementação do projeto, tem sabido levar os idosos do Centro Social do Tourigo a viajar pelas suas memórias mais antigas. São precisamente duas dessas histórias que esta semana nos traz…
Recorda o senhor Carmino Santos sobre “A poda...”
É no mês de março/abril que se faz a poda das videiras. O mês de abril é o mês de maior enxertia. Levantava-me muito cedo de manhã e ia para a terra levando uma tesoura da poda comigo.
Chegava junto da videira, analisava as partes ruins (as que se mostravam menos fortes) e cortava-as deixando as partes boas, para a videira puxar.
A videira quer-se rente ao chão, quanto mais baixa melhor vinho dá. Limpávamos os “ramitos” secos e os musgos no pé da videira, que lhe tiravam a força.
As vides que são cortadas, na poda, são juntas em faixas e algumas pessoas levavam-nas para casa para, depois de secas, as queimarem no fogão, na lareira ou no forno de cozer o pão. Outras faziam montes e queimavam-nas na ali mesmo na terra.
Depois da poda atavam-se as videiras com vime e mudavam-se as estacas velhas.”
Num outro momento recordámos com a dona Olívia Rodrigues e a D. Fernanda Gonçalves…
“A sementeira das batatas… Espalhávamos o esterco (estrume) e o adubo na terra e depois ou cavávamos à enxada ou lavrávamos a terra com uma charrua puxada pelas vacas. Abriam-se os carreiros com a charrua e colocávamos as batatas na leiva.
As batatas antes de serem semeadas eram escolhidas, as que tinham grelos semeavam-se, as que não tinham ficavam para os animais ou cozinhavam-se para consumo da casa. As batatas com grelo eram cortadas aos bocadinhos de modo a que cada bocado tivesse um ou dois grelos sãos para serem semeadas.
No fim de semear as batatas compomos a terra (alisamos) com um ancinho.
Depois de mais ou menos três semanas, as batatas começam a aparecer na terra.
As batatas demoram mais ou menos 4 meses para estarem bem-criadas e prontas a serem arrancadas.”.
Intervém a dona Graciete Sousa…
“Além da sementeira das batatas, agora também é o tempo de plantar ou semear o cebolo, o feijão, as couves, os tomates e pimentos,…”
Com a chegada da primavera, altura das sementeiras, a Técnica e Animadora do projeto planeou uma manhã onde os utentes puderam semear em vasos as sementes e plantas que trouxeram das suas casas. No dia anterior ficou decidido quem trazia o quê, as sementes e as plantas ficaram da responsabilidade dos idosos, a terra, os vasos bem como outros utensílios necessários ficaram incumbidos à técnica…
Enquanto mexiam na terra davam instruções, atendendo a experiência que tiveram ao longo da vida na agricultura. Ouviam-se lamentos que as forças agora são poucas e não podem continuar a semear as suas terras ficando colhidas a monte.